quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Poetas da Amazônia Profunda...


Trecho do poema: A Castanha.
Este Poema foi escrito pelo Heitor, um curumim de 13 anos que mora na Floresta Nacional de Tefé. Representou muito bem, aquilo que me orgulho.

...eu vim de uma família pobre,
e não tenho vergonha  de dizer,
pois é minha realidade,
não poderei esconder,
pois pobreza é uma coisa da vida
em que eu não deixei de viver.

e hoje eu ainda sou pobre,
e tenho prazer de dizer,
nasci pobre e ainda hoje,
pobre não deixo de ser,
e quem é pobre  é simples,
e simplicidade é bom ter,    
pois simplicidade é casa de pobre,
e pobre no mundo também tem direito de viver.

                                                    Heitor Neto
Heitor, Elson e o pequeno Adriano

Este outro, é um trecho do poema ''História Vivida'' que tirou segundo lugar na Festa da castanha de Tefé, no meio de um monte de professores, escrito pelo Elson, mais conhecido como ''o macaco prego'', pela dança do macaco doido na Folia. Um grande amigo que me acompanha na comunidade do Arraia. 

História Vivida

...A castanha tem sua beleza
Que eu vou falar
Tem creme tem xampu
Para moça se belezar

Arvore serve pra muita coisa
Pra casa, canoa, batelão
Mas se nós não derrubasse
Daria mais produção
Teria mais castanheira
Pra nossa população

Agora está mais difícil
É muita gente querendo ajuntar
Você sai de madrugada
Para a frente do outro tomar
Não faz nem caminho
Que é pra castanheira não encontrar

Aqui faço um apelo
Meus amigos comprador
De um preço mais justo
Para o pobre agricultor

Muita vez da muito medo
Quando cai um temporal
É pau pra todo lado
No meio do castanhal
Se você for pra debaixo
Vai parar no hospital
  
Vamos ver daqui pra frente
Como vai ficar a situação
A gente vendendo castanha
Só empresário que ganha
Manda pra Alemanha
Argentina, Peru e Japão.

Esta história que contei aqui
É pura realidade
Quem disser que estou mentindo
Vai perguntar na comunidade
Todo ano mesma coisa
Não tem preço de qualidade
Elson   

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Expedição de mapeamento participativo. Floresta Nacional de Tefé

No dia 06 de agosto iniciamos a segunda expedição de mapeamento na Floresta Nacional de Tefé. Passamos 10 dias viajando pelas comunidades dos rios Tefé, Curumitá de Baixo e Bauana. A intenção foi saber deles o que é importante para o Plano de Manejo da FLONA e para a melhoria de suas vidas. Pra nós, se apresentou um mundo novo, língua nova, costumes novos, rostos e oportunidades novas...
A equipe reunida de manhãzinha, curtindo o nascer do sol. Muito aprendizado com essa gurizada toda reunida.
Furo de entrada para o mapeamento na primeira comunidade do Alto Tefé. Lar dos jacarés e piranhas, que não se acanharam com a nossa presença. 
Tivemos várias formas de aproximação com a realidade das pessoas nas comunidades. Conversas, músicas, histórias, risadas na amazônia profunda. Pela manhã fizemos o trabalho do mapeamento, onde conversamos com os comunitários sobre seu território. A tarde trabalhávamos com o Acordo de gestão,  em que os comunitários discutiam o que era permitido ou não dentro da FLONA, e tudo partindo deles, nem uma palavra vinha dos gestores, senão como mediação.  
Esta era a cara das reuniões, regadas a músicas como esta:
O PESCADOR
(A D)
O pescador, ele sai bem cedinho / ele sai bem cedinho,
ele vai pescar.
O pescador, ele deixa a Maria / ele deixa os filhos, ele vai pescar.
O pescador, ele ama o rio / ele ama o rio, o Rio Amazonas.
O pescador, ele ama o rio, seus igapós, seus igarapés / os seus paranás e seus lindos lagos.
REFRÃO (G D A)
Você sabe porque, ê, ê, ê, / porque debaixo da água, a, água/ não existe só boto / mas existe também .../ o tambaqui, o tucunaré e o pirarucu. 



Ah, e é claro, banho no rio. Essa foto eu tirei, mas depois fui pular com a mulecada na água. Foi maneiro demais, eles definitivamente são uma mistura de peixe com gente, eu cansei demais, mas pulei um monte com eles.

O Raimundo me ensinando o processo para fazer a farinha. Uma das pessoas mais simpáticas e comunicativas que conheci. 
Raimundo, sua esposa e eu descascando mandioca. Aprendi muito rápido com um bom professor. Ele não era das letras, mas grandes coisa, sua prática com a produção da mandioca foi uma das aulas mais inesquecíveis que já tive.